Uma resposta a um texto sobre os adventistas

Glauber Rodger
6 min readAug 27, 2015

E porque estou cansado com o mimimi cristão/evangélico.

Uma introdução para estarmos na mesma página

Chegou o dia da prova final. O aluno se dedicou muito, estudou à exaustão e sente-se preparado. Dez questões dissertativas. Um, dois, três de letra. A confiança aumenta. Das questões quatro à nove, esbanja conhecimento e preparo. Uma aula de propriedade. Em bom inglês, mastered it! Pra fechar com louvor, a décima questão, aquela que lhe dá a liberdade de carimbar a aprovação e quase a permissão de tomar o lugar do professor. Mas é aí que ele comete um deslize básico, um chute na canela daqueles cuja dor é tão forte que faz rir. Ou então uma joelhada na quina da mesa que faz cair uma lágrima, que sozinha pesa mais que dois terços da água do corpo.

Tá bom, chega de hipérboles… Ele passou, mas foi com nove e não com dez. Mas é aquele nove com sabor de prata, sabe? Eu já disse por aí que a medalha de bronze é melhor que a prata. Você concorda comigo? O bronze vem com vitória. A prata sempre vem com derrota.

Agora minha elocubração - ou desabafo

Você entendeu a história acima. É mais comum do que imaginamos. E geralmente o que causa este tipo de situação é uma característica intrínseca ao homem, chamada soberba. Já escrevi sobre ela um tempo atrás.

Enfim, vamos ao fato. Diariamente checo meus feeds de notícias e blogs. Hoje recebi este novo texto, entitulado A Igreja Adventista e os seus falsos ensinos, escrito por Renato Vargens. Observado por um prisma analítico da doutrina, ele tirou aquele dez com louvor. Também considero a religião adventista uma seita, assim como outras muitas que existem por aí. Meu problema é que costumo ir além das aberrações interpretativas criadas mundo afora.

De vez em quando gosto de observar as religiões cristãs tradicionais, que são tão intocáveis que em suas bandeiras só faltava colocar um AC com fonte romana depois da data para dar mais credibilidade (risos), afinal, quanto mais antigo, melhor… Batistas, anglicanas, metodistas, presbiterianas… A maioria passa no teste matemático da verificação de seitas.

Pausa no tema. Para quem não sabe, para uma religião passar no teste, ela não pode efetuar nenhuma operação básica matemática:

1. Adição: Adiciona algo à Bíblia. Sua fonte de autoridade não leva em consideração somente a Bíblia.
2. Subtração: Subtrai algo da pessoa de Jesus.
3. Multiplicação: Pregar a auto-salvação por meio de obras.
4. Divisão: Dividir a fidelidade entre Deus e a organização.

Isto é só um resumo. Basta acessar este link e ter acesso ao bê-a-bá sobre como identificar uma seita. Concordo com seu conteúdo e em uma fase de minha vida isto foi muito útil para eu construir meu pensamento, inclusive já escrevi sobre porque não sou adventista (ou de qualquer outra religião).

Mas, apesar de passar no teste, estas tradicionais instituições muitas vezes se esquecem do que realmente importa. Não é difícil ver doutrinas, liturgias, agendas, metas, dízimos e ofertas tomarem o lugar do que realmente é importante na vida cristã. Leia 1 João 4:7–21 como um simples exemplo.

Mas este não é o assunto deste texto.

Quero voltar a falar sobre o texto do Renato. Se você ler o meu texto e o texto dele como maneiras de analisar o Adventismo, verá que ambos possuem muitas semelhanças. Se estiver com dúvidas ou conflitos internos, são boas leituras, assim como muitas outras espalhadas pela Internet.

Entretanto, uma coisa que o Renato faz em seu texto é misturar ensinos adventistas com pessoas adventistas.

E isto me incomoda de uma maneira absurda e explico o porquê.

Deus é Deus de pessoas

Ele não é Deus de instituições, doutrinas e religiões. Leia Atos 7:48–50, I Coríntios 6:19 e deleite-se no livro de Hebreus. É difícil de entender?

Veja o que ele escreveu: “Se conhecessem os ensinamentos destas seitas, pensariam duas vezes em cantar suas canções, ou até mesmo de chamá-los de cristãos”.

Eu pergunto: o que tem a ver o cu com as calças? Se você riu com minha pergunta, legal, estamos na mesma página ;) Se você achou um absurdo, faça de conta que você leu "misturar alhos com bugalhos". Foi apenas uma questão pessoal escolher a primeira opção.

Estes jargões são uma simples maneira de dizer que não existe relação nenhuma entre as duas atividades. Quer dizer que eu não vou ouvir e cantar no chuveiro músicas do Nando Reis porque ele é ateu? Ou poesias do Chico Buarque porque ele é candomblista?

Se você concorda com isso, este texto não é pra você. E está tudo bem pensar diferente. Temos todos o livre-arbítrio, certo?

Eu ouço MPB, Rock, Bossa Nova e qualquer música por causa da… música. Simples assim. A sonoridade e a letra formam um bom conjunto? Me dê duas semanas e já sei de cor. Pergunte para minha mulher. Sou um dos mais dedicados cantores de chuveiro no meu bairro (risos).

E as músicas compostas por letristas, músicos e poetas adventistas sempre estão dividindo o topo desta lista. Por algum motivo específico? Não, simplesmente porque estas músicas são compostas por pessoas que buscam o Senhor e se deixam ser utilizadas por Ele.

Ou você acha que Deus olha pro seu crachá religioso antes de falar contigo?

Bom, falei apenas sobre o “pensar duas vezes em cantar suas canções”. E se formos além e falar sobre o “chamá-los de cristãos”? Aí realmente a mudança é pra pior, mas não vou me estender neste assunto. A solução é simples: fujam dos rótulos! Se alguém lhe disser que você não é cristão, tudo bem, não tem problema. Outro jargão que diz muito: quando um não quer, dois não brigam.

Os cristãos estereotipados (aqueles que estão com as vestes da religião) gostam de julgar. É algo incontrolável. Se você acreditar em algo diferente do que o senso religioso comum ensina há milhares de anos, você não pode ser considerado cristão. Para fazer parte do clube você precisa se encaixar perfeitamente nos dogmas. É assim que funciona.

Sabe seu primeiro dia na academia e aparece aquele marombado que te olha torto como se a academia fosse dele? Pois é… infelizmente isso acontece no meio dos cristãos. Mas a boa notícia é que nem todo mundo é assim. Sério. Você pode também encontrar outros marombados que vão sorrir pra você e te ajudar a se dedicar nos exercícios e perder seus quilinhos indesejados. Basta procurar que tem gente boa, que dá as boas-vindas ao invés de te julgar.

Por isso, aceite minha sugestão. Não seja evangélico. Não seja cristão. Não seja rotulado. Apenas seja uma pessoa que tem um relacionamento íntimo com Jesus de Nazaré, aquele que no princípio era o verbo, estava com Deus, era Deus, se fez em carne e habitou entre nós para nos salvar do pecado.

Erre, acerte e aprenda com seus erros, caminhe sempre para frente. Reflita sempre em seus pensamentos e nunca perca tempo queimando os neurônios com bobagens. Quer saber o que é bobagem? Tudo que fugir do “ame a Deus de todo o seu coração e a seu próximo com a ti mesmo”.

Pra fechar, já falei que concordo com toda a análise da incoerência adventista escrita pelo Renato Vargens. Mas tão incoerente quanto às doutrinas pregadas, acho incoerente misturar este julgamento com as obras de pessoas que são usadas por Deus. Ou seja, IMHO, ele tirou uma nota nove com o amargo gosto da medalha de prata.

Assim como leio salmos escritos por um adúltero, provérbios escritos por um momentaneamente louco pelos prazeres da vida, cartas de um que se considerava o pior dos pecadores, também louvo a Deus ao som de pessoas que não comem carne de porco e que acham que o sábado é o selo do Espírito Santo. E daí que eles pensam diferente? Prefiro me apegar às nossas semelhanças do que às nossas diferenças.

Então, continuarei ouvindo com muito prazer músicas dos Arautos dos Reis, Leonardo Gonçalves, Estêvão Queiroga, Pedro Valença (cara, como este menino é talentoso!), Alessandra Samadello, Regina Mota, Laura Morena, Os Arrais, Novo Tom, Nova Voz e tantos outros cantores, cantoras, grupos e corais que são meus irmãos, mas que apenas pensam de maneira diferente.

PS: Se você for adventista e se sentiu incomodado por algo que eu tenha escrito, por favor, perdoe-me. Em nenhum momento foi minha intenção. Apenas penso de maneira diferente mas, acima de tudo, respeito nossas diferenças e que meu único problema é com rótulos.

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Glauber Rodger

Brazilian software developer living in Houston. Sharing thoughts and experiences.